quarta-feira, 16 de junho de 2010

Testemunho do Diác. António Giroto

“Que todos sejam um” (Jo 17,21)

Por António Girôto

Quando no fim de Setembro de 97 entrava no Seminário de Resende não fazia parte dos meus objectivos escrever, um dia, este texto. O miúdo que dava o maior passo da sua vida, que logo no início parecia maior que as pernas, não tinha como preocupação a sua vocação. Mais tarde ouviria o Sr. Vice-Reitor, Cónego Esteves, falar da importância de dizer sim aos amigos, nomeadamente ao Amigo Maior, isto é, de fazer a vontade não apenas dos meus colegas e amigos de caminhada, mas sobretudo de Jesus que me dava a mão para percorrer um caminho que ele próprio tinha traçado para mim. Mas que caminho? Era essa a pergunta que resumia os meus primeiros anos naquele lugar e que me fez pensar na vontade de Deus para mim.

O mundo avança sempre que alguém diz sim a Deus, aceita a sua vontade, corresponde ao seu chamamento que nos fará felizes não apenas na meta, mas durante todas as etapas que temos de percorrer. A decisão de dizer sim a este projecto que Deus tem para mim, ser Padre na sua Igreja, aparecia depois de longa reflexão pessoal, das conversas de um homem pequenino com um Deus grande e também pela mediação da Igreja nomeadamente no papel desempenhado pelo director espiritual.

O caminho que já estava iniciado ganhava com esta decisão uma nova luz, mas intensa, tantas vezes escondida pela poeira que se levantava, mas com a certeza que permanece. Continuo a ver essa luz cada vez mais forte e perto que não alcançarei na ordenação, mas verei cada vez melhor à medida em que for percorrendo o caminho.

Ser padre… que missão…

É ser Sacerdote em primeiro lugar. Homem de oração pessoal e comunitária, da liturgia nomeadamente da Eucaristia de que se alimentará e com que saciará o Povo de Deus. Que procura a sua santificação e a dos outros como fim essencial de cada um. È rezar a Deus pelos homens e lembrar os homens que existe um Deus que os ama imensamente. É agir na pessoa de Cristo não sendo um simples intermediário, mas sem nunca deixar de ser instrumento. É tornar Jesus visível no ministério e na vida, é ser Jesus para os que encontramos.

É ser Profeta! Alimentar-se da Palavra de Deus e lançá-la para o mundo não como quem semeia centeio mas pessoa a pessoa como quem planta uma árvore. Ser pregador da Palavra, aluno e formador para todos crescermos no conhecimento de Deus a partir d’Ela. Conhecendo-O, amámo-l’O. A partir da Palavra ensina a rezar, rezando.

É ser Rei! Não como um Senhor majestoso, mas como servo. Vivendo a caridade em cada momento e em todos os lugares. Ser bom pastor cujo modelo, Jesus, há-de imitar principalmente na caridade e preferências pastorais. È servir a todos discriminando positivamente os preteridos da sociedade, os abandonados, os pobres, tantos idosos que serão aqueles que primeiro o padre que vou ser terá de amar.

Tudo isto exige uma especial consagração a Deus, liberdade plena, que passa também pela vivência dos conselhos evangélicos. Sendo pobre reconhece que tem necessidade dos outros, que está desprendido e disponível e portanto livre para servir. Sendo casto ama mais e melhor, ou seja, ama mais pessoas e de uma forma mais profunda, assim é livre para amar. Sendo obediente amará aqueles que tiverem a difícil tarefa de presidir e aceitará a sua vontade por se tratar da própria vontade de Cristo, ficando livre para viver. Tudo isto a partir do incompreendido celibato, difícil e dificultado, mas também caminho de liberdade conhecidas as suas razões cristológicas, eclesiológicas e também escatológicas.

“Que todos sejam um” (Jo 17,21) é mais um mandamento que será o centro do meu ministério sacerdotal. A Unidade a partir da comunhão será uma preocupação constante. A Unidade é ser Jesus, é vê-lo no outro, é tê-lo entre nós, é viver da sua presença no nosso meio, garantia de felicidade, de alegria e de paz. Assim construiremos não apenas um castelo interior com várias moradas, mas também um castelo exterior em que os outros serão o lugar em que encontramos Jesus.

Termino traçando para mim a missão da Mãe de Jesus, tão necessária nestes tempos de “exculturação” do cristianismo. É necessário voltar a dizer sim a Jesus, recebe-l’O em nós, gerá-l’O, para depois o podermos dar à luz, a todos os homens, com a certeza de que se o perdemos é porque nos afastamos de seu Pai, onde Ele está. Que Deus Pai me ajude nesta missão, que é como quem diz, que eu me coloque nas Suas mãos e morra constantemente para a minha vontade. Assim …

“Ut unum sint” (Jo 17,21)

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