quarta-feira, 16 de junho de 2010

Testemunho do Diác. Filipe Mendes

“Não fostes vós que Me escolheste, fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16)

Por Filipe Mendes

A melhor forma de testemunhar e de transmitir o que vai no coração e na alma de um vocacionado ao Sacerdócio Ministerial será, certamente, com as palavras que Nosso Senhor Jesus Cristo nos disse e continua, constantemente, a dizer nos nossos dias; “Não fostes vós que Me escolheste, fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). Esta frase, retirada do Evangelho de S. João, retrata exactamente os desígnios que Deus tem para cada um de nós! Falar na vocação, é falar num sentimento tão íntimo que, por vezes, até o próprio vocacionado se sente surpreendido, perdido, retido, incompreendido, perante um Mistério tão grandioso e inexplicável, mas no entanto, tão generoso e sublime na relação íntima e cúmplice que o une a Deus.

A vocação é sempre uma iniciativa, misteriosa e gratuita de Deus. Deus vem ao encontro e chama, a cada um, pelo seu próprio nome. Antes de mais, o chamado deve ter plena consciência de que na origem da sua vocação está Deus, e que a sua missão só se entende e realiza na comunhão íntima com Ele. Deus chama a cada um de nós, não para realizar sonhos pessoais, mas para se tornar Profeta. Não anunciamos as nossas ideias, mas anunciamos e testemunhamos os projectos de Deus e o que Ele quer realizar através de nós, no meio da sociedade, na comunidade, inseridos no Mundo.
Dizia António Machado “Caminhante não há caminho, o caminho faz-se caminhando”; A vida é uma constante e ininterrupta caminhada que deve ser vivida com verdade, seriedade, liberdade e responsabilidade. Falar na vocação é falar em pessoas que realizam uma caminhada, num determinado caminho, conscientes que qualquer caminho que o Senhor lhe reserva, serão caminhos que as conduzem à felicidade. Falar da minha vocação é falar de uma caminhada. Acredito que Deus toca-nos já no útero materno, criando uma cumplicidade tripla, Deus, mãe e filho.

Deus toca e acompanha-nos sempre ao longo da vida, desde que começamos a existir até à hora em que nos chama a tomar parte do Banquete Celeste. Entrei para o Seminário de Nossa Senhora de Lourdes, para o 10º ano, aí permaneci três anos, concluindo o 12º ano. Findada uma etapa era altura de começar outra. Comecei a nova etapa no Seminário Maior de Lamego, onde pude reflectir, descobrir e experimentar Deus de uma forma totalmente nova e diferente na minha vida. Ao longa desta etapa tive dúvidas como todos os jovens, levando - me a parar para reflectir o que Deus queria de mim, e o que eu queria de Deus. A conclusão foi a mesma, e é por isso, que aqui me encontro a poucos dias de me tornar “sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec”.

Ao longo destes anos, encontrei vários obstáculos, mas uma coisa é certa, caminho que não possua tais obstáculos não é caminho, fica a recordação e a força para enfrentar aqueles que ainda estão para vir. Esta história é, apenas e simplesmente, um pequeno trecho da história da minha vocação. Todavia, a verdadeira história da minha vocação é Deus que a conhece, e por mais palavras que possam existir no meu vocabulário são insuficientes para a descrever.

O convite que Deus nos faz, é sempre generoso, gratuito e sobretudo livre. Só o aceita quem quer e quem tiver coragem para O seguir. Não sou nenhum herói, muito menos alguém importante, sou simplesmente uma criatura, consciente da sua fragilidade e das limitações, no entanto, como diz Fernando Pessoa “ Deus quer, o homem sonha e a obra nasce”. Deus quer, eu sonho, sinto, acolho e a obra está a nascer. Como dizia, não pretendo fazer a minha obra, mas sim a obra de Deus no e para o Mundo, sendo, apenas e exclusivamente, um instrumento nas mãos de Deus.
Comecei com as palavras de Jesus e é com elas que termino, agradecendo a Deus pelos amigos e condiscípulos que me deu; “Pedro, tomando então a palavra, disse: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos. Que receberemos? Disse-lhe Jesus: Em verdade Eu vos digo, a vós que me seguistes: quando as coisas forem renovadas, e o Filho do Homem se assentar no seu trono de Glória, vos assentareis, vós também, em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E quem quer que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, ou terras por causa do Meu nome, receberá muito mais e terá em herança a vida eterna”. (Mat. 19, 27-29).

Sem comentários:

Enviar um comentário