D. António Couto, em
“lua-de-mel” como Bispo de Lamego, veio à III Jornada da Pastoral
Familiar falar de “afectos e compromissos na família à luz da Bíblia”.
Citando um poeta siciliano, lembrou que “um povo torna-se pobre quando
lhe roubam as canções que aprende na infância, em família”, mais que
quando lhe roubam a liberdade ou a riqueza.
A “casa do pai”, no conceito
bíblico, significa a família alargada, que inclui o pai, a mãe, os
filhos solteiros e casados, os netos, os trabalhadores e os próprios
bens. E segundo a tradição bíblica, no Antigo Testamento, os pais contam
aos filhos as origens e a identidade do povo a que pertencem: a
História do povo é carregada de mistério e beleza, de solidariedade nas
dificuldades e de festa nas alegrias, sempre com Deus no centro,
atingindo o ápice na ceia pascal judaica.
Aos onze anos, rapazes e raparigas do povo judaico tornam-se “filhos do
mandamento”, numa festa semelhante à da profissão de fé cristã. Eles e
elas, nessa festa, percorrem a casa de todos os familiares e recolhem as
memórias/histórias dos seus antepassados e aprendem as trovas e
cantigas, lembrava D. António Couto, especialista em Bíblia.
Em contrapartida, nós “facilmente abandonamos e desprezamos o que vem dos nossos avós/bisavós e até dos nossos pais.”
Na Bíblia, encontramos evidente a tradição de “uma geração enaltece à
outra as obras” que Deus fez na sua História: “cantaremos as suas obras,
para que a geração seguinte as conheça e não se esqueçam das obras de
Deus e guardem os seus mandamentos”.
Contar histórias da nossa vida atravessadas por Deus é mais importante
que dar cheques, euros, ou cartões de crédito, afirmava o bispo,
esclarecendo que “os meus actos têm valor e consequências para a
família, que é pátria/mátria do dom".
Património e matrimónio têm na sua significação o dom (múnus) de saborear novas e permanentes relações de corresponsabilidade.
Aclarando o significado de paixão e de amor, D. António Couto lembrava
que “estar apaixonado/enamorado é sofrer; amar é decidir, actuar”: a
Bíblia não ensina apaixonai-vos uns pelos outros, diz “amai-vos uns aos
outros, …amai os vossos inimigos”. E concluía que “amar é uma atitude,
sucessão de actos oblativos, gratuitos”.
Terminando, sugeria aos casais presentes que deixassem como “herança”
aos seus filhos “histórias de amor atravessadas por Deus”,
testemunhando-as, porque “testemunhar é gerar vida nova”, como nos
mostra a Bíblia, tanto no Antigo, como no Novo Testamento.
G.I.
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