sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Até sempre, Padre João Ferreira

Por Sr. Pe. Doutor João António Pinheiro Teixeira

Acabou por acontecer o que há muito se temia, mas que, apesar da gravidade da doença, se esperava evitar: o senhor Padre João Ferreira Rodrigues morreu no dia 28 de Agosto.

Foi na passada sexta-feira que terminou a sua caminhada terrena, entrando no seio de Deus.

Aparentemente, a doença venceu o Padre João. Mas quem o pôde acompanhar sabe que foi o Padre João que venceu na própria doença.

Sabemos que a vida é um percurso que nos leva até à morte. Temos, porém, igualmente a certeza de que a morte é uma porta que conduz à vida. À vida que não tem fim.

Tão grande é a morte e tão grandes nos surgem os que morrem que tudo se apouca diante dela, diante deles. A vida é o grande teste, mas a morte é a maior lição.

O Padre João sempre acalentou a esperança de vencer a doença. Mas estava igualmente consciente de que a morte o podia visitar. Sentia-se preparado, com heróica serenidade e sem angústias.

Há seis anos que andava neste diálogo com a doença e com a fé. De cada vez que falei com ele saí sempre impressionado com a energia que mostrava.

Quis ficar sempre no meio do seu povo, que era também a sua terra natal. Entre os militares, que tão devotamente serviu, era também muito admirado e deveras estimado.

É o primeiro padre com quem partilhei o tempo de Seminário que entra na eternidade. Com ele, alimentava a esperança de que a ansiada medula aparecesse. Não apareceu a medula. Mas nunca desapareceu a fé.

Não foi fácil a vida do Padre João. Seu Pai morreu praticamente no dia da sua ordenação há 26 anos. Sua Mãe faleceu há poucos meses.

A sua família, muito unida, sempre o envolveu com torrentes de carinho. É um testemunho que sempre me calou fundo.

Não me despedi de ti, querido Amigo. O último contacto foi há pouco tempo via sms. Não esperava que Deus te quisesse tão cedo.

Mas ficarás sempre presente enquanto vamos caminhando pelas estradas do tempo. Obrigado pela tua amizade, pela tua sinceridade, pela tua franqueza.

A solidariedade que desejava sinalizar-te, quando te visitava, tu ma devolvias com crédito. Da tua presença saía sempre com mais alento. Não é fácil sofrer como tu sofrias e transmitir tanta paz como tu

transmitias.

É tão pouco o que nos dói em comparação com o que tu sofreste!

Nunca usaste disfarces, nem adornos, nem simulações. Foste sempre tu, transparente, honesto. E Cristo reluzia em ti. Na tua transparência e indiscutida honestidade.

Estiveste com Ele na Cruz. Ele esteve em ti na tua prolongada cruz. Tu estás n’Ele na glória.

Os nossos olhos choram-te. A nossa memória mantém-te vivo. A Igreja que serviste não pode esquecer o teu exemplo.

A fraternidade pura e envolvente, que sempre cultivaste, dará os seus frutos. Uma semente não desce em vão à terra.

Deus chamou-te no dia de Santo Agostinho. Pegando nas palavras com que abre o mais conhecido dos seus livros, direi que o teu coração já repousa no Pai.

É nas mãos d’Ele, nas Suas amorosas mãos de Pai, que, como referia Antero de Quental, repousa, finalmente, o teu coração. O teu bom, o teu grande, o teu imenso coração!

Sei que, no teu merecido repouso, nos transportas a todos até ao Pai.Um abraço grande. Até sempre, querido Amigo!

In Jornal Douro Hoje, 2009.09.03

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