quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Uma situação difícil

Por Pe. Luciano Moreira

Já ando para vos escrever estas linhas há uns dias, mas ainda não tive tempo, e também ainda não tinha encontrado um pouco de inspiração para o fazer, pois escrever não é o meu forte, e só o faço porque acho que é importante partilhar aquilo que estou a viver.

Desde já peço desculpa pelos erros, mas o teclado não me permite escrever melhor, sobretudo para pôr os acentos devidamente.

Estou a viver mais uma aventura missionária, depois de um ano de grande desgaste físico e psicológico, tanto na vida paroquial, como na vida académica, desta vez em terras de Angola, na paróquia de Nossa Senhora da Boa Nova, que pertence à diocese de Viana, nos arredores ou subúrbios de Luanda, Km 12 ou Estalagem, onde fui recebido mais uma vez pelos Missionários da Boa Nova a quem desde já agradeço o acolhimento e a gentileza que têm tido para comigo.

Esta experiência está a ser muito diferente das anteriores, tanto aqui em Angola, em 2002, no pós-guerra, na paróquia da Gabela, como em Moçambique no ano passado, que foram mais experiências de missão no mato, em meio rural. A deste ano é no meio urbano, nos bairros periféricos de Luanda, longe daquela que foi em tempos uma das mais belas cidades do mundo.

Ninguém sabe ao certo quantos habitantes tem esta paróquia, pois todos os dias chegam pessoas vindas do interior à busca de melhores condições de vida (que nem sempre encontram), mas calcula-se que entre 600 mil a 800 ou 900 mil.

Desde já posso dizer que estou bastante surpreendido com aquilo que encontrei, sobretudo a nível das infra-estruturas: esperava mais, sendo que em 7 anos desde a minha última estadia por estas terras muita coisa mudou. Por todo o lado encontram-se obras: é nas estradas, é em urbanizações, prédios e em estádios para receber o CAN 2010 (Campeonato Africano de Nações, que equivale ao nosso Campeonato Europeu de Futebol), etc; é alcatrão, máquinas, gruas e camiões por todo o lado.

Mas ao entrarmos nos bairros desta paróquia tudo continua na mesma: o povo sem trabalho; para ganhar o pão nosso de cada dia tem que vender na rua, desde sabão, cerveja ou carne assada ou qualquer coisa que sirva para levar uns Kuanzas para casa e matar a fome aos filhos.

As estradas nos bairros parecem autênticas pistas de moto-cross, onde aí em Portugal os amantes do 4X4 iam adoram competir, e não estamos no tempo das chuvas porque quando elas vierem nem os jipes passam, com as piscinas que se formam nas ruas.

É o lixo amontoado, são os saneamentos a céu aberto, é as crianças a brincar no meio desta lixarada toda, coisas que só mesmo vendo. É o transito infernal onde cada um tenta furar sem respeitar as leis do trânsito, é a policia a todos os cantos sempre pronta a mandar parar, não para multar com justiça, mas para cobrar a dita “gasosa ou mata-bicho” àqueles que lha quiserem pagar.

Isto não é nada que eu não tivesse já visto, tanto aqui em Angola como em Moçambique, mas a grande diferença é que este ano o contraste é muito maior, parece que estamos em 2 países completamente diferentes: de um lado a Angola rica dos diamantes e do petróleo, das grandes empresas internacionais, das grandes obras públicas e privadas, dos generais e membros do partido MPLA, com grandes casas e carros, com as viagens para a Europa se for preciso todos os meses do ano só para fazer compras; e do outro lado continua a estar o povo pobre e humilde, de quem ninguém se lembra e que vive à margem neste pais em grande desenvolvimento, que deve ser um dos mais ricos do mundo, mas que pela vontade de alguns nunca irá sair de ser chamado um pais de 3º mundo.

Por hoje é tudo!
Peço a vossa oração para já.
Comprimentos a todos
P. Luciano Moreira
2009.09.02

Sem comentários:

Enviar um comentário